Carla Selas do Amaral Arte Psicoterapeuta; Colaboradora do Banco do Bebé
Brincadeiras para bebé: Pinóquio, a marioneta de verdade
O papel da marioneta no desenvolvimento infantil
Lembra-te, Pinóquio: deixa sempre a tua consciência ser o teu guia.
(Grilo Falante em “As aventuras de Pinóquio)
Grilo Falante em “As aventuras de Pinóquio”
Esta é entre muitas, uma das frases mais conhecidas das “Aventuras de Pinóquio”, de Carlo Collodi (1881-1883) – texto original da adaptação de Walt Disney para o filme Pinóquio.
Todos conhecemos Pinóquio do nosso imaginário infantil, o menino de madeira esculpido por um carpinteiro chamado Geppetto numa pequena aldeia italiana. Nasceu sendo uma marioneta de madeira, mas sonhava um dia…tornar-se num menino de verdade.
Se pensarmos nesta história, resumimos que Gepetto criou um boneco de madeira que mais tarde ganharia vida, recebia uma consciência e tornar-se-ia num menino de verdade. Descrevemo-la como sendo uma história meramente infantil, impossível para a realidade do adulto mas encantadora no imaginário de qualquer criança.
Brinquedos para bebé: fantoches
No entanto, como em qualquer história de fantoches ou marionetas, sabemos que perante os nossos olhos, são simples objetos inanimados, de madeira ou de outro material qualquer, também são capazes de ganhar vida como o Pinóquio. Na verdade, o que acontece é que o fantoche, quando manuseado por nós, apodera-se de uma vida emprestada e desempenha a consciência e existência do humano de tal maneira que estas quase se tornam suas.
Quando brincamos com um fantoche sabemos que a vida que este revela não passa de uma fantasia. No entanto, quando envolvidos na dramatização e entusiasmo da criação de uma história, esta noção de fantasia tende a desaparecer. A emoção conferida no fantoche por parte do seu manipulador começa gradualmente a crescer e desta forma o fantoche, à medida que vai vivendo a vida que o manipulador lhe atribui, começa a ganhar vida autónoma, afirmando-se como um outro Eu distinto do Eu que o manipula.
Brincadeiras para estimular o cérebro do bebé
Esta é a maior riqueza no brincar com um fantoche. A criança, quando recorre livremente a um fantoche, faz com que este ganhe vida. No decorrer desta dramatização com o fantoche, a criança procura transmitir ao observador aquilo que sente necessidade de dar a conhecer de si mesma e que, por vergonha, medo…, não faz espontaneamente no seu dia a dia. Através do fantoche, a criança esquece as suas inibições e vive a história que este representa investindo naturalmente na expressão e comunicação com o outro.
A criança exprime-se através do fantoche, modificando o som e o ritmo da fala, contando, recontando ou inventando histórias, divertindo-se mas também tornando-se consciente da necessidade de linguagem verbal para se fazer entender, aperfeiçoando assim esta forma de comunicação. Promove também uma maior flexibilidade emocional, através da exploração de uma série de sentimentos e sensações desenvolvidos ao longo da dramatização. De realçar também que ao manuasear e transmitir movimento para o fantoche, a criança promove e desenvolve naturalmente diversas capacidades motoras. Facilita a sua noção do corpo e do outro, bem como do espaço de cenáro, noção espacial e o seu desenvolvimento psicomotor.
Os pais e o fantoche
O uso de fantoches como ilustrador e estimulador do conto de histórias pode ser muito enriquecedor para a criança, e deve por isso ser iniciado e desenvolvido pelos pais, cuidadores desde cedo. O adulto através do fantoche tende a partilhar experiências, que poderão deixar testemunhos e memórias profundas na formação das crianças. A criança pode não guardar todos os detalhes da história, mas guarda com certeza as vozes, os gestos, o quanto foi investido no momento de brincadeira e isso no fim, é o mais importante no desenvolvimento de vínculos fortes e saudáveis entre a criança e os pais. Estamos assim perante benefícios do uso do fantoche na criança, no adulto, mas também na promoção de vínculos afetivos entre estes.
Os pais durante a dramatização com o fantoche desenvolvem um maior autoconhecimento e confiança na sua capacidade de narrar. Ao descobrirem a sua habilidade única de organizar a narrativa e as histórias, isso desperta nos próprios, sentimentos de satisfação e orgulho. Sentimentos que transmitem à criança prazer, autoconfiança, novas perspetivas e contato com diferentes culturas que mais tarde irão contribuir para a construção da sua tolerância e capacidade no confronto de obstáculos através da criatividade.
Quando os adultos contam histórias, eles tornam-se no modelo de expressividade e oralidade para a criança, dando-lhe a possibilidade de imaginar e criar. Ao dramatizar uma história com fantoches não existe uma narrativa pronta e fechada, despertando assim na criança o exercício de escuta criativa e oferecendo-lhe uma nova versão da história na sua cabeça. O foco da narrativa está na palavra, na voz e nos fantoches, desenvolvendo na criança a capacidade de abstração, de imaginação e reconhecimento imediato da nova personagem.
As histórias e as suas mensagens
Regressemos à história de Pinóquio: foi à escola, aprendeu a ler para se tornar “um menino bom” mas também fez traquinices. Não foi manuseado por Geppetto, o seu criador, mas sim pelo grilo, “a voz da consciência”, e outras vezes foi tentado pela voz de personagens que fingiam querer o seu bem, deixando-o ao contrário em situações de perigo.
Sabemos que é só uma história, um brincar de “faz de conta” mas tal como todos os contos infantis pode oferecer-nos muitas mensagens importantes. Pinóquio não estava preparado para cortar os seus fios de marioneta, ganhou vida mas não soube como fazê-lo, vivendo diferentes experiências e colocando-se em dificuldades.
Dar vida a uma marioneta ou a um fantoche pode ser algo muito construtivo e importante para o desenvolvimento da criança. Promove a relação parental, comunicação verbal, expressão de emoções e sentimentos bem como estimulação de criatividade. Pode não haver raposas ou até baleias que engolem humanos mas simples personagens capazes com certeza de fazer as delícias da criança e de criar momentos de grande satisfação e harmonia na família. E se esta brincadeira for feita com harmonia, criatividade e amor haverá com certeza um final feliz como o final de “As aventuras de Pinóquio”.
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