Ana Calhau Interna de Formação Específica de Ginecologia-Obstetrícia; Colaboradora do Banco do Bebé.
Depressão pós-parto: o que é e quando começa
O nascimento de um filho é dos marcos mais importantes da vida de uma mãe e de um casal. Qualquer imagem que retrate esse momento mostrará alegria, cumplicidade, emoção, sorrisos, abraços. Mas nem sempre é assim…
O parto poderá ser um momento de grande esforço e desgaste para a grávida, é um misto de emoções, preocupações e sentimentos. Por um lado temos esta nova vida que se gerou, a esperança do futuro, uma família que se completa. Por outro temos a ansiedade relativamente ao cuidar do bebé e ao seu bem-estar, o medo de não ser capaz, a insegurança em relação à amamentação, em relação a si própria, que muitas vezes advém de um grande desgaste físico e emocional.
O período pós-parto, a que damos o nome de Puerpério, e que, em termos técnicos, se estende desde o nascimento do recém-nascido até 6 semanas após o parto, é uma fase de grande adaptação, desde as mudanças fisiológicas e esperadas no corpo da mulher, que se reajusta após uma gravidez para regressar ao seu “normal”, a mudanças comportamentais do casal para cuidar do novo membro da família, sendo muito frequente a diminuição do desejo sexual da mulher e, por conseguinte, uma menor intimidade do casal nos primeiros meses após a chegada de um filho.
Quais os sintomas da depressão pós-parto?
Por vezes, nas semanas que se seguem ao parto, poderá notar uma maior irritabilidade, maior instabilidade emocional, com crises de choro, dificuldade em dormir e ansiedade. Esta situação é, na maioria dos casos, transitória, e dá-se o nome de “Blues pós-parto”. A exaustão aliada às alterações hormonais e emocionais do pós-parto leva a que esta situação se manifeste.
Noutros casos, poderá surgir uma grande tristeza, associada a outros sintomas específicos de depressão, que caracterizam a depressão pós-parto.
A depressão pós-parto caracteriza-se por:
- Tristeza prolongada e irritabilidade
- Crises de choro;
- Falta de energia e incapacidade para as actividades do dia-a-dia;
- Alterações do apetite (poderá aumentar ou diminuir) e alterações dos hábitos de sono;
- Ansiedade exagerada pelo estado de saúde do bebé ou desinteresse pelo recém-nascido;
- Perda de auto-confiança e baixa auto-estima
- Sentimento exacerbado de culpa ou vergonha;
- Ideação suícida ou ideias de morte (casos mais graves).
Quando começa a depressão pós-parto?
A depressão pós-parto pode surgir em até 10% das recém-mamãs e geralmente inicia-se nos primeiros 3 meses após o parto, mas podem aparecer nos 12-18 meses que se seguem.
O maior factor de risco para desenvolver esta doença é a existência de histórias passadas de síndrome depressivo no passado. No entanto, uma grande percentagem de mulheres com depressão pós-parto nunca teve problemas semelhantes na sua história pregressa.
Como curar e superar a depressão pós-parto?
Perante esta suspeita, é importante procurar ajuda especializada, uma vez que a melhor forma de ultrapassar e curar uma depressão pós-parto é através da combinação de terapêutica farmacológica e acompanhamento psicológico. Existe medicação bastante segura no período de amamentação e até mesmo na gravidez, que pode ser receitada pelo seu médico.
Para uma mamã que se encontre nesta situação é fundamental valorizar os momentos de descanso e encontrar tempo para si mesma, procurar dividir as tarefas domésticas e do recém-nascido e não dar ouvidos a críticas (que muitas vezes começam em nós mesmas). A maternidade é um caminho de aprendizagem, feito de momentos gratificantes mas também de momentos de frustração e fragilidade. Procure aceitá-los e diminuir a exigência consigo própria. E lembre-se de que não está sozinha.
É muito importante procurar apoio familiar, delegando nas pessoas mais próximas os cuidados do recém-nascido que não dependem exclusivamente da mãe, para que esta possa repousar por maiores períodos.
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